Trocando corrida pelo celular, crianças podem perder habilidades motoras
Retirado de: Folha de São Paulo
Em 13 de fevereiro de 2015 Ã s 14:24
Karime Xavier/Folhapress
Gabriel Alves
São Paulo
Publicado em 04/02/15 Ã s 02h03
Menos pega-pega na rua e mais videogames. Resultado: as crianças que cresceram com uma tela na mão podem ter habilidades motoras menores, e a sua dificuldade para correr ou subir em árvores preocupa pais e especialistas.
"Você joga a bola e as crianças não conseguem pegar. Elas não sabem mais brincar: ficam tão ligados na TV, nos joguinhos...", diz a educadora fÃsica e presidente da ONG Instituto Movere, Vera Perino Barbosa.
Dicas para estimular crianças e adolescentes a fazer atividades fÃsicas
"São atividades que deveriam ter sido trabalhadas na primeira infância, mas elas cresceram sem isso".
As explicações dos pais para a decadência das brincadeiras fÃsicas misturam a violência urbana –os pais ficam mais tranquilos mantendo os filhos dentro de casa– com o próprio gosto das crianças por aparelhos tecnológicos.
"Ela nunca gostou muito de sair", afirma a operadora de telemarketing Kelly de Medeiros, 27, sobre a rotina da filha HeloÃsa, 11.
A garota é fã mesmo de joguinhos no smartphone como o Flappy Bird, em que o objetivo é fazer um pássaro desviar de obstáculos.
"Gosto também de ver vÃdeos do One Directon no YouTube", conta a garota.
Além disso, a maior parte das amizades da menina eram virtuais. O celular acabou virando o grande companheiro de HeloÃsa. "Parece que o celular faz parte da roupa ", diz a avó, Neide Souza.
A inatividade trouxe consequências: com 1,60 m de altura, HeloÃsa já tinha superado os 80 kg. Há três meses, após a recomendação de uma médica, HeloÃsa começou a praticar tae kwon do.
O problema também afeta Alef, de 11 anos. "Se puder, fica no tablet, computador ou Xbox o dia todo", diz a mãe, Juliana Freitas. A famÃlia mora na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais.
Ela até tentou colocar o filho no basquete, já que o irmão mais velho fazia, "mas sempre reclamando". Não deu muito certo.
Até em acampamentos a perda de habilidade motora das crianças é sentida. No SÃtio do Carroção, em TatuÃ, no interior de São Paulo, uma brincadeira com cipós teve de deixar de ser realizada, porque as crianças já não conseguiam mais agarrá-los como antes.
O psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das ClÃnicas de São Paulo, diz que a mudança do estilo de vida é cada vez mais evidente.
"As preferências de relacionamento da nova geração passam pela mÃdia digital. "De alguma maneira, esses recursos roubam a criança daquilo que a gente imagina ser o certo a fazer", diz.
Em termos médicos, o ideal é que as crianças façam 60 minutos diários de atividades fÃsicas, diz a endocrinopediatra Denise Ludovico, da Associação de Diabetes Juvenil.
No entanto, segundo ela, já é possÃvel atingir bons resultados com crianças obesas com 40 minutos de atividades, três vezes na semana.
Karime Xavier/Folhapress
HeloÃsa começou a praticar tae kwon do há três meses, após o conselho de uma médica
Se a atração causada pelos aparelhos eletrônicos for inevitável, há ao menos videogames que respondem ao movimento, como o Wii, da Nintendo. Segundo Nabuco, seria uma maneira de tentar compensar o incompensável.